São tantos os lugares deste mundo. Melbourne, Viena, Joinville, Varsóvia, Porto Alegre, São Paulo, Berlim, Barcelona, Telaviv, Belo Horizonte e mais tantos outros horizontes pra gente abraçar. (Será que dá tempo?)
Tantos os cenários, rotas, línguas, rostos, janelas, fusos um tanto quanto confusos. Tantas as possibilidades profissionais e amorosas, conexões e escolhas, partidas e chegadas. Em que pé ou ponte aérea você está?
São tantos os tantos, e apenas um(a) de você. Que ainda não teve a sorte de ser clonado(a), apesar de todos os avanços tecnológicos que os cientistas andam produzindo por aí. Que está feliz da vida em uma outra cidade ou país, se aprumando feito gente grande, mas que também sofre de falta, saudade e culpa por estar longe. (Ai, como dói essa dicotomia. Corte quase profundo.)
Ah, se você pudesse ser clonado(a). Apresentar o projeto de marketing para a diretoria e ao mesmo tempo encher o seu pai de abraços pelo 65º aniversário dele, do outro lado do mundo. Fazer bonito com o doutorado e ainda cuidar da irmã doente, longe mais de 1500 km. Fazer a prova de alemão e ao mesmo tempo pegar um cineminha com o bem, distante um oceano inteiro. Matar um leão por dia e ainda encontrar a mãe na cozinha, abraço e sopa quentinha. (Mas a mãe já dormiu faz tempo, deve estar sonhando com a filha que não vê há 3 meses…)
Acostumados que estamos com as dualidades da vida – dia e noite, sol e chuva, tristeza e alegria (o velho e bom “Ou isto ou aquilo” de Cecília Meireles), vamos nos cindindo por dentro, como se a geografia não bastasse. Ficamos bem de um lado e mal de outro, como se esta fosse a única alternativa possível. Ao invés de somar e multiplicar, subtraímos e dividimos, numa matemática que traz dor e inevitavelmente não nos deixa inteiros. Fragmentados vamos, como linhas pontilhadas deste vasto mapa-múndi.
Aí alguém te diz que vida foi feita para voar. Abrir asas, desancorar medos e receios, se encontrar no meio do caminho ao invés de se perder em meio a tantas indagações. Com tudo o que aperta o coração, ele ainda é grande o bastante para caber um tanto enorme de gente. (Sente.)
O amor (como sempre, o amor) é capaz de transpor montanhas, fronteiras, alfândegas. Num instante, é como se a Oceania fosse logo ali, colada na América do Sul. Foi pra lá que partiu uma moça bonita, cheia de brilho nos olhos, carregando malas e a dicotomia de viver longe de casa, rimando felicidade com saudade. (Outro dia nos reencontramos no Instagram, tão longe tão perto, e ela meio que me soprou o tema.)
A encomenda foi aceita com alegria, Natália querida. Foi um jeito bom e inspirador de matar saudade e desejar a você toda inteireza do mundo. Este post é dedicado a você.
Andre says
Natália de sorte!!!
Renata Feldman says
Fonte linda de inspiração!
Suely says
Renata,lendo seu texto fui relembrando a partida de minha neta,que com 16 anos ,viajou para uma cidade da Pensilvânia,sozinha ,para realizar um sonho.. Sim, felicidade rima com saudade.
Renata Feldman says
Bota saudade nisso, Suely! Vó, então, sabe bem o que é isso!…
Beijo, querida!
Cesar Vieira says
Mais um post emocionante, prezada Renata. Sobretudo para quem, como eu, mora em BH mas tem seus filhos, noras e netos vivendo nos States, além de amigos e colegas espalhados pelo mundo!!!
Renata Feldman says
Haja coração, Cesar. Um pouquinho de você anda por esse mundo afora.
Abraço!
Vera Mesquita says
Ah… As dicotomias da vida… As escolhas que a gente tem que fazer em circunstâncias inesperadas…
Renata, seu post, lindo e emocionante, me fez voltar no tempo e lembrar de quantas vezes desejei ter sido clonada. A felicidade de um lado, o dever e a obrigação do outro. A decisão tomada. O coração apertado. A sensação de não estar inteira nem num lugar nem no outro… E a vida corre, deixando pra trás os sonhos… E vem a luta, a impossibilidade de cumprir fielmente o dever, a culpa pelo dever não cumprido… A consciência, implacável, não perdoa. E a vida se transforma num fardo.
Certo mesmo estava Guimarães Rosa quando disse que “viver é difícil e perigoso”.
Parabéns, minha querida!
Beijos.
Renata Feldman says
Pois tenho certeza de que você deveria mesmo ser clonada, Vera. Especial do jeito que é, ia fazer um tanto de gente mais feliz.
Beijo, minha querida!
Jane Avila santos da Silva says
Estou adorando seu trabalho. Por um acaso, procurando mensagens boas, descobri você. E você trazendo uma bagagem de vivencia, experiência e nos dando a oportunidade de transmitir essa sua imensa sabedoria para os amigos, pais, professores e muito mais. Em dias sedentos de esperanças, amor, atenção, diálogo, encontramos palavras que ajudam de alguma forma, o entender dos conflitos angustiantes de nossas crianças e adolescentes. Depois de anos e anos com pedagoga e educadora que fui, hoje aposentada, sinto a falta e a necessidade de contribuir com alguma coisa boa para a educação. Levarei o que sei, o que aprendi e vivenciei, junto aos conteúdos encontrados. Isso tudo para levar mais leitura ou informações para a sociedade Obrigada..
Renata Feldman says
Você não imagina o quanto fico feliz com a sua mensagem, Jane!… Com a trajetória que você tem – de uma nobreza só -, o que não falta é oportunidade de contribuir sempre.
Suas palavras me inspiram e me fazem acreditar que um mundo melhor é possível.
Muito obrigada, seja bem-vinda!