
Depois de tanto já dito, refletido, doído, sentido, a série continua. Na vida. Nos quartos e suas portas fechadas. Nas salas de aula, recreio, nos shoppings e nas resenhas. Nas telas de celular, no feed do Instagram, nos olhos do seu filho. Tem olhado pra eles? Tem percebido o que eles querem te dizer, de verdade? (Nem sempre querem, mas uma hora acabam contando.)
Sem culpa, essa palavra por demais torturante e pesada, corrente de chumbo arrastando o coração. Um dos sentimentos mais compartilhados na terapia pode traduzir também uma ideia de arrogância, uma prepotência de achar que se é infalível, quase Deus. Não somos. Somos humanos, falíveis, imperfeitos. Erramos, a despeito da nossa urgente necessidade de acertar. No lugar de culpa, prefiro pensar na parcela de responsabilidade de cada um, essa aí certa e implacável, força motriz a reger os relacionamentos.
Em seu grande fenômeno de audiência e repercussão, a série Adolescência da Netflix levanta algumas reflexões importantes. Que bom que faz isso, apesar da desagradável sensação de soco no estômago. Ui. Dói.
Não se trata apenas de adolescer, mas de atravessar essa desde sempre complexa fase da vida em um mundo que agora é também virtual, com suas envolventes e aprisionantes redes de distração, aprovação e dopamina. Likes, emojis, códigos muitas vezes indecifráveis para os pais viraram o novo dialeto dos filhos. Legendas, por favor. Afeto, cuidado, comunicação e presença podem construir pontes ao invés de abismos.
Ah, e limites, é claro. O bom e velho limite de sempre, um tanto quanto escasso nesses nossos densos e estranhos tempos. Se os pais não colocam, a vida escancara. Sem dó. E por falar em limite, é preciso enxergá-lo também aqui entre esses dois verbos: sentir e agir. Você pode sentir tudo, mas nem sempre pode agir conforme o que sente. Pode sentir raiva, ódio de alguém que te rejeitou, mas não pode matar esse alguém. Equilíbrio e saúde mental nunca foram tão importantes. Não só para os adolescentes, mas também para os adultos que os conduzem por essa vida afora. Modelo é bússola.
E se tem uma coisa que dorme e acorda com a gente é a tal da consequência. O que falamos, o que fazemos, o que comentamos diretamente com o outro ou no universo virtual não escapa à dimensão do real. Autorresponsabilidade, autoconhecimento e autoamor são premissas fundamentais para se relacionar consigo mesmo e com o outro.
Então vai lá. Olhos nos olhos, pulso firme, coração disponível para acolher esse adolescente que anda se descobrindo – ou se escondendo – bem aí à sua frente. Amor é a senha.
Seu comentário é muito bem-vindo