Tenho ouvido bastante a palavra medo. Bastante. Medo de todas as espécies, formatos, cheiros. MEDO. De dormir, acordar, decidir, sentir, sonhar. Medo de morrer, medo de viver, medo de ser, talvez aí uma razoável generalização de todos os medos.
Clássico e atemporal, esse sentimento paralisa, acorrenta a alma, diz não à calma; como numa turbulência em pleno voo, em que o comandante pede para apertar os cintos e quem fica apertado é o coração: espremido, desenfreado, completamente desassossegado. Uma sensação terrível de que algo escapa ao nosso controle, e que o pior está por acontecer.
Não é preciso estar dentro de um avião para viver a turbulência. Basta deixar a mente entrar numa nuvem negra e pesada, carregada de pensamentos negativos e energias densas para que o medo chacoalhe tudo. Seu mundo ainda nem caiu mas é como se faltasse pouco. Assusta o poder gigantesco que o medo tem de antecipar o que ainda não aconteceu (e talvez nem vá acontecer), mas que dentro de nós já se tornou realidade, a mais pura e catastrófica verdade. E por falar em verdade, aí vai uma boa notícia, colhida na fonte: turbulência não faz cair o avião. Apesar de ser extremamente temido e desagradável, o fenômeno é tranquilo de enfrentar, palavra de comissário de bordo e demais peritos no assunto. (Que assim seja também com as inquietudes que andam estremecendo o seu coração.)
Para turbulências em terra, há de se buscar possíveis contrapontos ao medo que por tantas vezes nos assola: coragem, confiança, força, firmeza, paz, serenidade. Amor, quem sabe? Talvez aí resida o antídoto para combater essa tormenta de sentimento que costuma fazer tanto estrago dentro da gente. Faz sentido. O amor cobre tudo, é maior que tudo, capaz de nos distrair da adrenalina que jorra do nosso sistema nervoso.
Feliz de quem tem no travesseiro um amigo, privilégio abençoado esse de dormir tranquilo. A noite inteira. Sem o peso assustador do medo, nos resta a leveza de respirar fundo e descansar os olhos nas nuvens, bem lá onde Deus mora, garanta já o seu lugar à janela.
Andre Lemos says
Maravilha de post. Lindo. Sensibilidade pelos nossos tempos estranhos.
Renata Feldman says
Amor, alento, paz, discernimento. Que façam parte dos nossos planos de voo nesses tempos estranhos.
Beijo.
Cesar Vieira says
Mais um post bem interessante e útil para todos nós, prezada Renata!
Renata Feldman says
Obrigada, Cesar!
Espero que esteja tudo bem por aí!…
Salete says
Renata, que satisfação ler esse post seu. Realmente estamos vivendo uma turbulencia muito grande, tanto no âmbito político quanto emocional. Temos que ter muita coragem, para superar tudo isso. Bjs
Renata Feldman says
Sim, minha querida, coragem: “é o que a vida quer da gente”, já disse nosso sábio Guimarães Rosa. Bom te ver por aqui, saudade de você!