Meu caro Freud,
Sinto muito, muitíssimo, mas infelizmente não poderei comparecer à nossa próxima sessão. Sua Viena é linda (acho que posso dizer “nossa”, a mesma terra por onde nasceu e andou minha tataravó materna), já me sinto pertencente e com enorme dificuldade de ir embora.
Mas, você sabe, tenho que ir. O trabalho me chama, os filhos sentem falta (e eu também, imagina, saudade de mãe judia, você me compreende bem…), enfim, a rotina precisa voltar ao normal. (E o que é “normal”?, você poderia me perguntar.)
Os dias que passei aqui ficarão para sempre na memória, muito além do meu hipocampo ou lóbulo frontal, mas na memória do coração. Afetivamente me despeço de você, deixando registrado o quanto fiquei encantada (hipnotizada, eu diria) por cada canto da sua casa – cada cômodo, cada carta, cada adorno, cada lembrança. (Quanta emoção.)
E como você sempre explica tudo, meu caro Freud, por favor: explica também esse amor imenso que eu sinto pela psicologia; pelos labirintos infindáveis que permeiam a mente humana, tão repleta de pensamentos, ideias, impulsos, traumas, memórias, histórias. Me ajuda a entender essa emoção que me toma quando escuto uma pessoa falar daquilo que a faz sofrer; quando enxergo o outro através dos olhos dele e ajudo a desatar os nós que fazem chorar, sentir, adoecer, crescer.
Deixe-me falar de um sonho. Aquele, de anos atrás, quando eu ainda era uma menina e as minhas amigas de escola vinham me contar algum problema. Eu gostava de ouvir, e era com uma certa desenvoltura que eu respondia àquela clássica pergunta dos adultos: “O que você vai ser quando crescer?”
Aquele sonho virou realização, meu caro Freud, e você tem um tanto de culpa nisso. (Ah, culpa… Uma das palavras que mais escuto na clínica…)
Culpa boa, a sua. Obrigada por abrir caminhos, acender a luz, respaldar essa profissão que eu tanto prezo e amo. Aquele sonho antigo me faz acordar para trabalhar todos os dias com uma alegria e uma gratidão que acho que nem você dá conta de explicar.
Até a próxima, meu querido Freud. Obrigada por tudo, sempre.
Vera Mesquita says
Que lindo, Renata! Fiquei emocionada, como se eu também tivesse visitado Freud!
Não pergunte a Freud! Seu amor pela psicologia é inexplicável! Sua delicadeza e sensibilidade e, também, a dedicação e seriedade com que você faz o seu trabalho são a prova disso.
E quem lucra somos nós que, semanalmente, vamos aí beber dessa fonte…
Como sou feliz e grata!
Parabéns, minha querida! Beijo!
Renata Feldman says
Ahhh, Vera querida!… Sua emoção é minha também, pode ter certeza! E a minha gratidão não tem palavras!… Obrigada, muito obrigada por fazer a minha profissão mais bonita.
Abraço carinhoso!
Clara Feldman says
Filha, como você conseguiu colocar em palavras exatamente o que eu sinto toda manhã quando acordo para trabalhar?!? Privilegiadas somos nós, apaixonadas pelo que fazemos. E pelo que sentimos fazendo o que fazemos! Quer saber? Emoção tão grande, nem Freud explica (só sentia, como nós…). Amor da mãe, amor de mãe pra você 🌹
Renata Feldman says
Ah, mãe… Desde muito cedo eu te via acordar para trabalhar, sou testemunha dessa sua paixão. O brilho dos seus olhos acabou passando pros meus, linda herança que herdei em vida.
Muito obrigada por me ensinar tanto, e tanto e tanto.
Amor da filha, amor de filha pra você.
monica says
Apenas, Parabens!
Lindo!
Renata Feldman says
Muito obrigada, Monica!
Seja bem-vinda e volte sempre!
Rosângela Fontana. says
Muito obrigada por compartilhar. Maravilhoso.
Renata Feldman says
Obrigada, querida.
Abraço carinhoso.