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Renata Feldman

Pausa pra pensar na vida. Vida com todas as letras, dores, amores, escolhas, emoções e imperfeições. Vida cheia de encontros e desencontros, medo e coragem, partida e chegada. A vida cabe num blog.

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Despatriados

18 de maio de 2017 por Renata Feldman
14 Comentários. Deixe o seu também.

O primeiro whatsapp do dia veio do meu pai, às cinco e quarenta da manhã. Junto do carinhoso bom dia de sempre, uma foto linda do meu avô, pai dele, que hoje faria 111 anos.

Como esquecer, pai?

Dia 18 de maio é dia do olhar terno, da barba sempre feita, do perfume inconfundível, da paz contagiante, do jeito encantador de me chamar de Renatinha, repetidas vezes, como se o meu nome fosse música pra ele.

Dia 18 de maio é dia de lembrar do homem que aos 15 anos de idade pegou um navio na Rússia, sozinho, cruzou o oceano e veio descobrir um Brasil cheio de paz e esperança. Homem de bem, batalhador, que começou a vida vendendo rolos de tecido de porta em porta e foi abrindo janelas de realização pela vida afora. Abraçou com afinco o trabalho, pediu em casamento uma das mulheres mais doces e cheias de bondade que esse mundo já viu, virou pai, avô, bisavô, e aqui estou para continuar a história, atravessada pelo amor que veio de lá, dessas raízes que florescem um tanto de grandeza em mim.

Nunca vou me esquecer dos últimos anos de vida do S. Jayme. Já tão velhinho, escutando pouco, respirando mal, ainda assim acordava cedo, tomava banho, fazia a barba e ia para o escritório, junto do meu pai. Ali passava a manhã “derramando” o jornal sobre a mesa e lendo notícia por notícia, manchete por manchete, até manchar as mãos de tinta. Qualquer assunto ele era capaz de debater: política, economia, música, futebol. Impressionante como suas antenas captavam o mundo. Vez por outra levantava a sobrancelha como se indagasse: “Onde é que esse país vai parar?”

Esse país parou, vô. Estancou na vergonha (ou na profunda falta dela), na tristeza, no lamento, na ausência de tantas coisas que são essenciais a um país. Nosso hino desafinou, nosso solo secou, cadê “o sol brilhando no céu da pátria nesse instante”? A sensação é de luto, orfandade, parece que fomos todos despatriados. Você se foi e parece que o nosso Brasil também.

Tenho a convicção de que ir trabalhar cedo todos os dias te deixou lúcido. Te deixou vivo por 92 anos, sorte nossa.  Mas se você tivesse acordado aqui hoje,  sentiria uma enorme tristeza ao abrir o jornal. Haja estômago, pulmão, coração, pra dar conta de tanta notícia ruim. É de fazer qualquer um perder a lucidez. A esperança então, nem sei.

Vou aproveitar seu aniversário, seu 18 de maio tão cheio de emoção e saudade, pra fazer um pedido, quase um apelo: junta seus anjos, sua luz, sua força e sopra, além das 111 velas, boas energias aqui pra gente. Estamos precisando.

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Arquivado em: Família, Trabalho, Vida
Marcados com: Brasil, esperança, raízes, tristeza

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Comments

  1. Cidinha Ribeiro says

    18 de maio de 2017 at 20:20

    Pois é, Renata. Muito difícil conviver com tamanha falta de dignidade.
    O homem está se desumanizando, virando uma máquina projetada para ganhar dinheiro a qualquer custo.
    Apesar de tudo e de todos, sua escrita continua leve, bonita. Possui fluidez e alma.
    Gostei de conhecer seu avô, esse jovem senhor tão delicado, dinâmico, antenado, focado.
    Parabéns, Renata, ou Renatinha, como era o jeito dele de chamar você. Abraço grande.

    Responder
    • Renata Feldman says

      18 de maio de 2017 at 22:21

      Ah, Cidinha, eu também fiquei feliz de te apresentar pra ele!…
      E você tocou no ponto: a falta que mais dói é a da dignidade. Reforçando o meu avô, “onde é que vamos parar?”.
      Que bom te ter por aqui, cada palavra o aconchego de um abraço.
      Obrigada, querida.

      Responder
  2. Eta Brum says

    18 de maio de 2017 at 22:35

    E como?

    Responder
    • Renata Feldman says

      19 de maio de 2017 at 07:55

      Soprando, Eta, soprando. Um sopro de luz.

      Responder
  3. Clara Feldman says

    19 de maio de 2017 at 00:29

    Nossa mãe, filha! Quem será que soprou tanta palavra bonita no seu ouvido, bonita e precisa, aguda que nem bisturi? Quem te mandou tanta luz pra escrever sobre o 18 de maio? Uma luz que se somou àquela com a qual você já nasceu com ela num 6 de junho? Quem aumentou ainda mais a inspiração que te faz ver a vida como se a vida fosse um poema permanente? Nas horas mais bonitas e nas mais feias também? Ah, eu sei quem foi … Primeiro, o aniversariante, vovô Jayme, com a perseverança que o fez vencer na vida. Segundo, vovô Zé, com seu idealismo e sua escrita irretocável. Terceiro, vovó Estela, com sua ternura e meiguice insuperáveis. E em quarto lugar, a vovó Bella… ah, essa vovó Bella sempre presente, a começar pelo nome da sua filha, Rê. Com seu piano, com um livro sempre na mão e com os lírios amarelos no jardim… E assim, os quatro reunidos, sopraram pra você esse texto que, com certeza, veio do céu trazido por um anjo! Mamãe

    Responder
    • Renata Feldman says

      19 de maio de 2017 at 08:02

      Ah!… Vou chorar.
      E o tanto de sopro lindo que vem de você pra mim, mãe?
      Ai, melhor parar por aqui. Nada disso, melhor parar nunca.
      Amor é isso: passa de geração para geração, de raiz pra flor e se eterniza no tempo, num sopro que enche de inspiração os pulmões e o coração, êita dupla mais linda!…

      Responder
    • lia margalith says

      24 de maio de 2017 at 08:58

      isso ai ClarinhaConvivi com todos e endosso tudo que você falouMas a saudade é eternabeijos

      Responder
      • Clara Feldman says

        26 de maio de 2017 at 12:32

        Oi Lia, que bom te encontrar no espaço da Renata! Quanto às saudades, concordo com você: serão eternas, enquanto vivermos. Da sua mãe, então, nem se fala! Foi uma das pessoas que mais amei na minha vida, e ainda amo. Beijão

        Responder
  4. Tito says

    19 de maio de 2017 at 07:05

    Filha querida, que emoção ler este texto seu, tão lindo!
    Manifestar o grande carinho que sinto por você,
    e falar da sua importância na minha vida é redundante.

    Obrigado !!!

    Responder
    • Renata Feldman says

      19 de maio de 2017 at 08:07

      Emoção é a minha, pai, de ver o tanto de vovô Jayme e vovó Estela que há em você, e por consequência também em mim e nos seus netos.
      Estrelas que viraram, enchem de brilho nossos olhos.
      Eu que agradeço sempre!

      Responder
  5. Vera Mesquita says

    19 de maio de 2017 at 15:19

    Renata querida!
    Mais uma vez você tocou lá no fundo do meu coração. Falou com tanto amor do seu avozinho lindo, que estaria fazendo 111 anos. Depois relatou a ele o caos que estamos vivendo no Brasil, país que ele adotou. Nossa pátria amada agonizante, e nós, os filhos deste solo, na iminência de ficarmos órfãos, estamos num barco à deriva, navegando nas águas turvas de um oceano de falcatruas, mentiras e ambição desmedida.
    Suas palavras, porém, como num toque de mágica, vêm embaladas por uma delicadeza capaz de transformar lama em água pura, turbulência em calmaria, tristeza em esperança.
    Por isso o texto ficou tão lindo!
    Parabéns!

    Responder
    • Renata Feldman says

      19 de maio de 2017 at 23:02

      Vera querida,

      Minhas palavras encontram as suas, como encontro de rio com mar.
      Sua emoção me alegra, igualmente me toca.
      Obrigada, minha querida.
      Beijo no seu coração.

      Responder
  6. Patrícia says

    19 de maio de 2017 at 16:41

    Muito lindooooooooooooooooo.

    Responder
    • Renata Feldman says

      19 de maio de 2017 at 23:03

      Muito obrigadaaaaaaaaaaaaaa, querida. Bom te ver por aqui!

      Responder

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