Ele cresceu mas continuou com medo de escuro.
Onde se lê “escuro” leia-se exame de rua, homossexualidade velada, entrevista de emprego, hipocondria.
E assim ele cresceu, enxergando monstros na maçaneta e fantasmas disfarçados de cortina.
Faz sol lá fora mas dentro dele neva. Berra.
Céu frio, nublado, concerto fúnebre, auge da hipotermia.
Tantos convites, coloridos cenários, dentro dele goteira: um fio de coragem desbotada.
Se ao menos pudesse voar. Visitar um outro planeta.
Se ao menos pudesse sonhar. Sonhar sem ter que acordar.
Se ao menos pudesse fazer contas de mais. Somar ao invés de subtrair sempre e tanto.
Se ao menos pudesse fazer de conta. (Conta pra ele que o mundo não é esse muro cinza que ele acreditou que fosse.)
Se ao menos pudesse ser ele mesmo. Nome, sobrenome, endereço, RG, uma paixão, um hobbie, uma identidade. Saudade?
Ele cresceu mas ainda não aposentou o menino que foi um dia nem o velho que certamente virá ao seu encontro.
Ele cresceu doído, incompreendido, versos fora de ordem, estranhamente fora de órbita.
Cancelou a agenda, fechou a janela, fez greve de si.
Dalmir says
Boa noite, querida Renata. Como sempre, você cada vez mais brilhante. Continue assim e que Deus te abençoe sempre para alegria de todos nós que temos a oportunidade de curtir estes Posts maravilhosos. Beijos, abraços, carinhos deste que te admira muito.
Renata Feldman says
Querido professor,
A alegria é minha, toda minha, de ler cada palavra sua de incentivo e carinho.
Muito obrigada!
Abração!
Maria Inês Castanha de Queiroz says
Renata, que forte e belo, seu texto. Dá vontade de lançar brechas de luzes nas janelas desta alma recolhida e esperar acenos para ajudar a abrir frestas. Parabéns por sua escrita.
Renata Feldman says
Sim, há de se enviar luz e abrir janelas!
Muito obrigada, Maria Inês querida!
Abraço carinhoso!