Minha filha se apaixonou por um unicórnio.
Foi lá na Universal Studios, depois de viver minutos de “Minion” no empolgante simulador do “Meu Malvado Favorito”. Na saída da atração, mais atração: uma lojinha tentadora com suas blusas amarelo-vivo, chaveirinhos personalizados, unicórnios de pelúcia esparramados pela prateleira.
Não deu outra:
– Ahhhh, mamãe, que liinndo!…
– Lindo mesmo, Bebella, mas depois a gente olha com calma. Vamos lá no Shrek, antes que o parque feche. (!)
E depois de muita aventura, loopings e hip hurras, o parque fechou. A lojinha dos Minions fechou. O unicórnio por lá ficou, esparramado na prateleira.
O coração da pequena partiu, nem preciso dizer.
– Amanhã a gente vai atrás do seu unicórnio, filha.
E a gente foi. Mas o danado do bichinho parecia estar em extinção. Loja nenhuma, outlet nenhum, shopping nenhum. Só dentro da Universal, justamente o parque que a gente não voltaria mais.
Sugeri trocar o unicórnio por elefante, burrico, ovelha, ursinho. Nada. Irredutível a mocinha, personalidade forte, típica do signo de escorpião. Apaixonou mesmo.
Voltamos ao Brasil no dia seguinte, deixando uma incumbência para os amigos (santos amigos) com quem dividimos a casa: trazer o unicórnio, já que eles ainda iriam dar uma espichadinha no mundo da aventura.
Dito e feito, missão cumprida, quase morri de vergonha quando vi o tamanho da encomenda que eles trouxeram na mala. Chegou em boa hora, melhor não podia: na véspera do aniversário dela.
Qual não foi sua emoção quando acordou cedinho no dia seguinte com o unicórnio ao seu lado, esparramado na cama. Achei que ela fosse ter um troço, mistura de alegria com falta de ar.
E o dia passou colorido com aniversário na escola, festa da camisola à noite, ensaio de balé na manhã seguinte. Muita emoção para uma menina só.
Quando ela se viu sozinha com o unicórnio ao fim do dia, deitou agarrada com ele no sofá e lá ficou, encolhidinha, pensando na vida.
– O que houve, Bebella? Está tudo bem?
E foi aí que a pequena colocou para fora toda a emoção das últimas horas, chorando de soluçar:
– O Peter Pan é muito sortudo!…
– Peter Pan?! Por quê?!
– Por que ele nunca vai crescer… Eu não quero crescer, quero ser sempre criança pra ficar com o meu unicórnio!…
– Mas você pode crescer e continuar com o seu unicórnio, ué.
– Não, senão as pessoas vão me zoar!…
– Sabe, minha filha? Quem zoar é porque não teve infância. Mesmo que a gente cresça, leva pra sempre a criança que foi um dia. Eu, quando presenteio você com o unicórnio, ou preparo uma festa da camisola, ou levo você pra Disney, alegro também a criança que fui um dia.
A essa hora, a pequena era uma mistura de cansaço, emoção, afeto e filosofia. Como doía a ideia de perder seu mimo de pelúcia um dia. Como chorava a minha menina, já toda cheia de pêlo branco grudado no rosto molhado.
– Agora vai brincar, minha filha. Gruda no unicórnio e aproveita cada minuto da sua alegria. Ainda falta muito pra você crescer.
Ana says
Que lindooo! Me emocionei…
Renata Feldman says
Histórias que marcam, Ana!… Você também um dia vai colecionar as suas!… Beijos, querida!
PC says
Mas marcam a gente.
Mesmo que ela um dia se esqueça do unicórnio…
Renata Feldman says
Marcam na alma, PC. Tem jeito de esquecer não.
Abraço, amigo!
Anonymous says
Nós, adultos, como choramos até hoje por objetos e lembranças marcadas! Também sofremos igual criança! O tempo apenas acalma! Fica triste não, terão inümeros episódios a nos apegar…Que lindo e comovente texto!.Me emocionei…