Entro no elevador junto de uma simpática senhora de cabelos brancos, se queixando (sem lamúrias ou lamentações, mas com um largo sorriso no rosto) das suas “cadeiras”.
Reforço:
– Ah, hoje em dia tá todo mundo “descadeirado”!…
(Risos.)
– Ah, não, minha filha, você ainda está muito nova… Já eu, do alto dos meus 84 anos…
– 84?! Não parece!…
– É o que todo mundo diz, mas já colhi 84 primaveras…
Pergunto, brincando:
– Ah, não, me conta: qual o creminho que a senhora usa à noite?
– Creminho? O creminho é a saudade e o amor, minha filha. Tô doida pra “ir embora” pra me encontrar com ele, que partiu já faz 16 anos… A gente vivia tão bem, mas tão bem…
Oitavo andar. Abre a porta do elevador, me despeço da alegre senhora.
Abro a porta do consultório, pensando na dor – dores tantas, escuto todo dia – que faz um amor partido.
Coisas da vida. Da idade. Conversas de elevador, dor de saudade.
PC says
Fico apaixonado quando escuto mamãe falando do papai.
É igualzinho…
Renata Feldman says
É apaixonante mesmo, PC. E pode ter o maior orgulho, porque é daí que você veio.
Abração!
Bê Sant Anna says
Em uma entrevista linda, Gilberto Gil compara o “encontro” dele com o do filho que já se foi, com o “encontro” dele com o mesmo filho antes de nascer. Isso iluminou meus dias e minha forma de ver o mundo. No Caminho de Santiago tive a mesma experiência, de estar mais próximo, lembrando Richard Bach, que escreveu que “Longe é um lugar que não existe”. Hoje, sinto isso doer na pele, há mais de 3 meses sem ver minha filha que se foi pra Recife com a mãe… Esperando ela crescer, cresce meu amor e meus “encontros” com ela, sozinho, todas as noites e todas as manhãs.
Saudades de você também, amiga Feldman.
Renata Feldman says
Amigo Bê,
Não consigo nem imaginar a dor dessa sua saudade. Só agora entendo o conteúdo de alguns de seus posts, tão poéticos e cheios dessa falta. Ainda bem que inventaram a música, a poesia e os caminhos – de Santiago e tantos outros – pra gente enxergar e sentir o tanto de amor que reside nessa também invenção chamada saudade.
Abração!
Anonymous says
ola renata! aki e a GRAZI nao sei se vc lembra de mim,, hoje dia 21/01/12 estava na sala o meu querido filho, estava mexendo na tv, e ele trocou o canal e vc estava dando entrevista sobre alta estima,. tenho saudades do leo e de vcs…
Renata Feldman says
Bacana, Grazi, agora você também é mãe!…
Parabéns, tudo de bom!
Abraço,
jaime ohana says
Sensacional o post.
Renata Feldman says
Muito obrigada, Jaime!
Abraço!